Tudo depois da poesia é uma merda.
Ademar Santos

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Brevíssimo solo de harpa

Quando as saudades me ferram
vendo o olhar num lenço turvo
e na pele visto o teu dedilhar de sedas
titubeantes, tacteando-me (toda):
faz-se um instante apenas
em mim que permaneces,
um crescendo que me crava,
um canto que me cavalga,
um berro que me banha
só um instante...

Já no instante a seguir
perde opacidade o pano e
esgarça a gaze por que me galgas,
o ricto rói no rosto,
crispa-se o corpo e quebra
o ventre verberado,
some a harpa e da janela um clarão
despe-me abrupto
e trépida expele-me
à solidão antípoda.