Tudo depois da poesia é uma merda.
Ademar Santos

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Antologia perversa

Se eu desse em ler agora (e por sempre) todos os poemas que me deste
não mais saía de mim, não mais da palavra me afastava,
nem olhava mais, nunca mais, aos olhos doutros,
nem aos meus, os próprios, só luz do desencanto.
Afundava no feitiço,
na violência mansa
da gramática assaltada,
na cruel intransitividade dos verbos
que há tanto perderam os objectos,
directos ou indirectos,
em que prolongavam carícias.
Mergulhava no ensalmo das letras,
subtilmente entrelaçadas, mágicas,
e afogava nelas, nelas
abafava o grito, o último, o mais calado.

Depois, quando o depois até que enfim chegasse,
na viravolta da eternidade,
mastigadas as metáforas,
o silêncio cobrir-me-ia
de pétalas a boca
como mordaça.

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