Tudo depois da poesia é uma merda.
Ademar Santos

sexta-feira, 11 de junho de 2010

À mostra

Desenvolver
―o que quer que for―
conforta?

Agir metodicamente é imprescindível
para levantar as camadas com sigilo:
escolhe-se um campo assoalhado,
esfola-se o inoxidável com lâmina de aço,
com vagar retira-se o adiposo panículo que amortece
e abre-se em lascas
―até que enfim desvendado!―
o mistério do cerne
pulsante,
sanguíneo,
nervudo,
antes de tanger com agulha sensitiva
no osso a melodia da fragilidade.

Ora bem... Em geral,
os espectadores carecem de coragem,
―fora da devassa clínica ou morbosa―
para contemplarem
a exposição pelada
duma ausência no desfalecimento
e o olhar vidrado dos voyeurs
antes morre pela penumbra vulnerável dos jardins
em noites aluadas
sobre epidermes pálidas.

De aí a solidão da carne sob a intempérie!