Não é aos mortos que surpreende a morte
mas aos vivos que ficam
na surpresa presos à impresença
desprovida,
ao silêncio dos espaços em branco,
ao intacto dos corpos incorruptos em duas dimensões,
aos cheiros que persistem na derradeira camisa
ou no livro marcado pela página cento e trinta e um.
Não é aos mortos que a morte arrasta
mas aos vivos que reptam ao seu encalço,
extraviados os gêpêesses,
pela noite fora,
tacteando as margens dos precipícios sem eco,
com bolhas gritantes por dentro dos sapatos
e o gesto de espanto ferrado no rosto
ao ganharem o muro vazio do horizonte.
Memoria
Há 4 anos
2 comentários:
Sem dúvida!
Uma fenda para a dúvida sempre é bom deixar, Maria. É o que faz mover as vontades.
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