Tudo depois da poesia é uma merda.
Ademar Santos

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Na quinta do era

Era de tarde em Aveleda
e a tarde dera trégua à chuva


Tiraste da algibeira as chaves
e foste-me abrindo as portas ao fundo de ti,
ao que és,
ao que foras.
E eram as lâmpadas queimadas,
e eram as salas vazias,
livros abandonados,
móveis ausentes,
o teu quarto, intacto, tal como era,
as celas que já não eram
ou o aqui que era a adega,
e a capela, ali, que era onde,
as cortes,
o lenheiro,
as relíquias e relicários
do que houve e do que não havendo há
num rasto de nostalgias caladas,
religiosamente descritas:
aqui era, aqui era, aqui era...

No quintal ainda o plátano,
colossal e nu,
denunciava-te no que és:
soma de tanto era.

2 comentários:

Eli disse...

E quando não há chaves?

:)

Sun Iou Miou disse...

Quando não há chaves, Eli, rebenta-se a porta, deitam-se abaixo paredes, levantam-se telhados...
:)