Tudo depois da poesia é uma merda.
Ademar Santos

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Como se viesse para ficar

O cansaço é uma visita inoportuna
a qualquer hora
com quem ninguém quer conversa
nem partilhar a cama ou a mesa da sala.
Sempre, quando chega, de olhos vazados,
parece que vem para ficar,
tanta pouca pressa manifesta
no desprezo às palavras e nos gestos,
carentes de despedidas.

No outro dia, de dia, entrou casa adentro,
acomodou-se-me no peito,
desacomodando-me,
e abriu a boca,
gulosa de sangue,
as gengivas descarnadas,
num sorriso cínico,
cítrico.

Logo à noite, uma noite,
instalou-se-me no ventre,
expulsando-me de mim,
coalho de sangue,
para me devorar placidamente
às escuras e em silêncio.

O cansaço é uma visita nada grata
que chega de dia ao corpo
com a bagagem dos olhos vazados,
das gengivas descarnadas,
da nenhuma pressa à noite,
como se viesse
para ficar até ao fim do sempre
da gente.

2 comentários:

Eli disse...

Se calhar, devias escrevê-lo com letra maiúscula!

:)

Sun Iou Miou disse...

Achas, Eli? As maiúsculas são pouco elegantes. Talvez esse meu cansaço mereça uma deselegância assim, que o afugente... ;)