Vem dum antigamente
este diálogo nosso pelas casas doutros,
do tempo em que morámos numa estrela,
quando em mim se estremecia a madrugada
com a tua voz de letras
gritando, sussurrando, nas cores do ecrã,
e a tua espera concluía enfim
noite dentro pela amanhecida minha.
Vem do dia que nunca iria ser
o monólogo a sós que trocamos,
do tempo em que os dedos faiscavam
ao contacto com o teclado que fazias vivo
num silêncio iluminado, numa luz calada,
numa distorção das horas roubadas
aos sonhos em que me ensinaste a descrer.
(Não sei como sobrevivemos
quando estava escrito que a hecatombe
nos deveria rasgar em pedaços
impossíveis de recompor. Ainda bem.
Talvez foi só que sobrava um mundo por escrever?)
Memoria
Há 4 anos