Tudo depois da poesia é uma merda.
Ademar Santos

domingo, 28 de junho de 2009

O verbo inexistente

—Falou-se de ir,
de voltar ninguém disse nada,
pois nunca nada é o mesmo e voltas,
voltas não há.
É tudo e sempre idas,
idas sem paragens.
—Sem paragens?
—Até.
—Até...?
—Até um dia.
—Pois.

—É sempre um ir constante,
o rumo marcando-se sozinho,
em livre alvedrio dele,
troça dele.
A gente (tansos!) acha que dirige,
que tem poder para modificar a capricho curvas,
pontes e túneis, engenheirinhos da vida.
Não tem nada.
A gente obedece e caminha,
caminha sempre.
—Sempre?
—Até.
—Até...?
—Até um dia.
—Pois.

—O medo, o amor, o sofrimento
ficam atrás,
reais imaginários,
e à frente é só vazio que aguarda,
paciente e convicto, os passos devidos.
Mas regressos ao lugar que já foi pisado? Isso é que não.
Isso não, nunca.
—Nunca?
—Nunca.
—Nem até...?
—Nunca é só nunca mesmo.
—...

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