Tudo depois da poesia é uma merda.
Ademar Santos

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Autorretrato impaciente à machada

Ninguém pense que me conhece
porque venho aqui a vomitar cuspe
ou bílis. Tenho vida atrás que chegue
e alguma, menos, à frente,
em que não afundo tanto que me afirme.

Tenho,
para os pormenores a cinzel,
o gesto seco e ausente,
os dedos fracturados de tanto desavir comigo,
os pés a dez centímetros do chão
e muito perto da cabeça:
nada que provoque vertigens imprevistas
nem sangue fora do papel.

Em estratégia, ai!, sou de derrota certa:
antes me vence a retirada
do que o desprazer duma baioneta
arrancada a pingar
o confete vociferante das vitórias.

Do resto também nada se aproveita...
nem para esterco.

3 comentários:

Maria José Meireles disse...

És linda...

Sun Iou Miou disse...

Antes de hoje, Maria, só uma vez me disseram "És (muito) linda". Fiquei tão espantada que respondi interrogando, "Eu?!". Explicaram-me então: "Pela atenção que pôs sempre em tudo quanto eu digo". Aí eu concordei: "Ah, assim sim. Assim sou mesmo muito, muito linda."

Maria José Meireles disse...

muito é muito. linda chega. eu não disse? o que é a beleza senão isso?