Este vento é do sul e acorda-me
com os sons de madrugada na N13
(barulho de camiões principalmente)
Não tarda em chover.
Nem amortecido se ouve o rebuliço dos pardais,
à procura de espaço e mais uma migalha de pão.
Também não tintinam os ferreirinhos nas bigornas frágiles
nem contemplam admirados o seu reflexo
sobre o vidro do meu gabinete,
a balançarem no cordel do mosquiteiro
como pêndulos da hora certa.
A melodia dos piscos nem se anuncia
ainda
nos seus olhos ausentes de enorme desconcerto escuro.
E as rolas,
com o cheiro a pólvora recente baixo ás as,
emudeceram.
Há para aí um melro a namorar entre as gardênias
(nem deve saber que já vem sendo outono),
mas sempre um gaio me adverte do perigo que sou eu.
Oi, ssst, silêncio!
Duas pegas discutem a propriedade dum ovo roubado
e meia dúzia de corvos em assembleia extraordinária
abrem um oco entre o nevoeiro.
Este vento vem do sul, com certeza:
não é a tua respiração no meu rosto
acarinhando-me.
De aqui a nada, chove-me.