Tudo depois da poesia é uma merda.
Ademar Santos

sexta-feira, 4 de junho de 2010

E ainda dizem que o surpreendeu a morte...

Não é aos mortos que surpreende a morte
mas aos vivos que ficam
na surpresa presos à impresença
desprovida,
ao silêncio dos espaços em branco,
ao intacto dos corpos incorruptos em duas dimensões,
aos cheiros que persistem na derradeira camisa
ou no livro marcado pela página cento e trinta e um.

Não é aos mortos que a morte arrasta
mas aos vivos que reptam ao seu encalço,
extraviados os gêpêesses,
pela noite fora,
tacteando as margens dos precipícios sem eco,
com bolhas gritantes por dentro dos sapatos
e o gesto de espanto ferrado no rosto
ao ganharem o muro vazio do horizonte.

2 comentários:

Maria José Meireles disse...

Sem dúvida!

Sun Iou Miou disse...

Uma fenda para a dúvida sempre é bom deixar, Maria. É o que faz mover as vontades.