Tem vocação suicida o tempo:
é preciso matá-lo antes que nos mate.
(Eu, nem lembro onde)
Virá o inverno mais tarde,
mais cedo, o seu cerco contra
a insubmissão cada vez menos
resistência, menos rebelde.
Flácido o anseio, toldada a vista,
quem guerreará?
Hoje, porém, está nevoeiro e amanheci
em ânsias dum sulcar vales
desarrumado e lento.
Vou mergulhar o instinto na massa
do mundo, vou sentir a carícia
das nuvens no pedaço de cara
que contém os olhos
e liberta lágrimas.
Porque é outono ainda e
amadurece em mim um sonho
como romã que rebenta
viva e líquida
para alimentar aves
de passagem.
Vou-me esvoaçar.