Para a Rosa
Há filmes na memóriaque o espelho multiplica e amplifica,
côncavo ou convexo, e tergiversa,
distraído do tempo e dos sentidos
que nele embalde se reflectem,
antes como abraços, comunhão,
agora instantes em duas dimensões
e uma só (múltipla) lembrança viva (ainda)
para os situar no ponto exacto,
no valor exacto da ternura.
Mente o espelho por omissão
de calor e palpitações,
de texturas, sorrisos sem lábios
que os desenhem evidentes.
Falsea a imagem desde a superficialidade
dúplice das lâminas de estanho e vidro.
E não há câmara que grave
o íntimo discurso de cada gemido,
o sobressalto fundo da pele,
a eclosão interna do afecto.
Nunca os fotogramas saberão explicar
a quarta dimensão do silêncio.
Não há espelho
nem há câmara
que digam ao certo como foi ou é.