Tudo depois da poesia é uma merda.
Ademar Santos

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Parte meteorológico

Este vento é do sul e acorda-me
com os sons de madrugada na N13
(barulho de camiões principalmente)
Não tarda em chover.

Nem amortecido se ouve o rebuliço dos pardais,
à procura de espaço e mais uma migalha de pão.
Também não tintinam os ferreirinhos nas bigornas frágiles
nem contemplam admirados o seu reflexo
sobre o vidro do meu gabinete,
a balançarem no cordel do mosquiteiro
como pêndulos da hora certa.

A melodia dos piscos nem se anuncia
ainda
nos seus olhos ausentes de enorme desconcerto escuro.

E as rolas,
com o cheiro a pólvora recente baixo ás as,
emudeceram.

Há para aí um melro a namorar entre as gardênias
(nem deve saber que já vem sendo outono),
mas sempre um gaio me adverte do perigo que sou eu.
Oi, ssst, silêncio!
Duas pegas discutem a propriedade dum ovo roubado
e meia dúzia de corvos em assembleia extraordinária
abrem um oco entre o nevoeiro.

Este vento vem do sul, com certeza:
não é a tua respiração no meu rosto
acarinhando-me.
De aqui a nada, chove-me.

2 comentários:

Lili disse...

Choveranos pronto a tod@s... Pero a min é o que me fai adorar o inverno ;)

Sun Iou Miou disse...

Não fosse pelo cheiro aos cães molhados, Alodia, podia ser outono o ano inteiro.