Tudo depois da poesia é uma merda.
Ademar Santos

sábado, 6 de novembro de 2010

Preâmbulo a um passeio de mota em dia sábado

Tem vocação suicida o tempo:
é preciso matá-lo antes que nos mate.
(Eu, nem lembro onde)

Virá o inverno mais tarde,
mais cedo, o seu cerco contra
a insubmissão cada vez menos
resistência, menos rebelde.
Flácido o anseio, toldada a vista,
quem guerreará?

Hoje, porém, está nevoeiro e amanheci
em ânsias dum sulcar vales
desarrumado e lento.
Vou mergulhar o instinto na massa
do mundo, vou sentir a carícia
das nuvens no pedaço de cara
que contém os olhos
e liberta lágrimas.

Porque é outono ainda e
amadurece em mim um sonho
como romã que rebenta
viva e líquida
para alimentar aves
de passagem.

Vou-me esvoaçar.