Tudo depois da poesia é uma merda.
Ademar Santos

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Poema-bolo recheado de cianeto

Comia as palavras sem qualquer
adubo, nem sal nem canela, cruas,
atendendo apenas ao valor alimentício
necessário ao desempenho funcional
dos órgãos.

Um dia ―era já noite morta―, descobri
no quarto mais luminoso da casa
a cozinha e a farinha, os ovos inteiros
―descascados―, a batedeira. Aprendi
a brincar com fogo brando
na panela.

Dei então em pesar as palavras
na balança das precisões instáveis
e em colocar ao lado de cada uma o preço
a pagar por devora-las, eu no interior
oferecida como creme de amêndoa
amarga.