Tudo depois da poesia é uma merda.
Ademar Santos

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A minha voz

Declamar-te-ia, dizendo-te simples,
a começar pelos pés,
fossem ainda as minhas mãos a
tocar-te, como cordas o teu corpo,
como dedos em ti os meus dedos,
que tocam ar só agora, vazio,
sopros sem vento, melancolia.
Dizer-te-ia simples, declamando-te,
a começar pelos cabelos,
fossem ainda os lábios meus a
beijar-te como ânsias o teu peito,
como olhos em ti os meus olhos,
que vêem terra só agora, cova,
cores sem luzes, a nostalgia.

Calou tanto esta minha voz, deserta.
Já não tenho sotaque a embalar-te.