Tudo depois da poesia é uma merda.
Ademar Santos

domingo, 26 de setembro de 2010

No final da tarde, outono

Está um silêncio tíbio na praça
que já não recebe ombros nus
nem óculos que disfarcem olhares
ou desejos pendurados dos decotes.
Ressuma a tarde devagar na pele fina
do casaco e aqueço os dedos entalados
na chávena dum remedo de café.
Deambulo por tropos como viagens
nesta ilha sem fronteiras que me abafem.
Petisca aos meus pés uma pomba
o farelo do bolo que me adoçou
as horas da penumbra iminente.
Paguei a conta, guardei-me no livro.

O homem segue os meus passos lentos
como quem vê afastar um cadáver.