Tudo depois da poesia é uma merda.
Ademar Santos

domingo, 16 de agosto de 2009

Desestrelação (versão)

Num documentário, conta o astrónomo, em cujo nome não reparei (desculpe-me por isso, mas foi só a frase que me prendeu nos ouvidos), que cada átomo que nos forma foi parte antes dalguma estrela. E eu...

Descontemplo as mãos,
ignoro-me também nos dedos com que já não te escrevo;
e das carícias inexistentes repelo-me, enxoto-me;
enxoto-me também dos cheiros de vocação evocadora que não mais
—não mais, não mais, não mais— te conjuram;
desouço a voz rouca e gasta que já nem o teu nome pronuncia;
renego-me nos pés que te não caminham, vereda,
ai vereda,
veredinha verde de descobertas por mim trilhada que foste.

Ou no de dentro mais interno esculco:
o coração exaurido;
os pulmões que amarfalhou tanto alento teu ausente neles;
o fígado enorme a rebentar o abdome, intoxicado de mágoas como vermes;
os tristes intestinos inomináveis.

E a luz? Onde a luz?! —grito.

A luz da estrela que fui atomizada, diz-me,
ficou presa na noite em que não mais me amaste?

4 comentários:

Lili disse...

Ai, que bonito... Gostei, e sentim muita melancolia...

Maria disse...

Alodia, era melhor não ter necessidade de escrever nem uma só linha do que aqui se diz, mas pronto, no mínimo, se serve para inspirar o que quer que for em alguém...

(Obrigado.)

Anónimo disse...

Maria,Um dia destes vou roubar-te este trecho e vou "botar" no meu blog. Achei demais!

Beijos

Manoel Carlos

Não te sinto por aqui, onde andas?

Maria disse...

Desandando ando, Manoel Carlos. Normal que não me sintas nem por aqui nem por nenhures.