Tudo depois da poesia é uma merda.
Ademar Santos

sábado, 9 de abril de 2011

Tão longe

Tenho saudades da viagem que não farei
ou talvez saudades do tempo em que
bastava fechar os olhos para andar
e o espaço tinha o tamanho dos sonhos
que nunca batiam contra o infinito.

Há um deserto que nunca irei percorrer
e já senti a areia a arder nos pés descalços;
há um pôr-do-sol laranja e uma árvore
ao contrário a desenhar-lhe veias pretas;
há um rio como o peito duma mãe
em que se bebe a esperança nascida.

Tenho memórias da viagem que não farei
ou talvez memórias do tempo em que
bastava abrir os braços para amar
e o mundo tinha a dimensão da vida
que nunca iria esbarrar em muro algum.