Tudo depois da poesia é uma merda.
Ademar Santos

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Isto passa

Não fosse o que sei
(que isto passa),
partia-me de mim convertida
em asas, em nuvem,
partícula de nem-nada.

Isto passa,
tem de passar,
sempre passou.
Passa como os minutos,
nem restos, nem rastos.
Passa.

Não fosse o que sei
já nem soluço era,
eu levitante.

domingo, 4 de outubro de 2009

Litomorfose

Deu agora em praticar a desobediência
ante a vontade
tanta
minha.
Cérebro comandante
é ninguém nem nada superior
a exercer poderes vãos.

—Come! —ordena.

O tal como se chovesse,
insubmisso,
águas que lavam lágrimas.
E chove.

Nem suplicando cede.
Está que nem pedra surda e cega,
petar que não comove,
este estômago.

Como se não bastasse
a presença pesada no peito
de latejar manso, lento?
Se calhar é um processo involutivo,
invasivo.

Quem sabe
não vire aos poucos
o sal diluído estátua
e eu seja afinal
a mulher com nome dum outro Ló,
ancorada no passado,
lume e enxofre na olhada,
pés de barro?